quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Menina de ouro

  
     Incomodada, era assim que ela se sentia quando a alisava. Embora a preocupação fosse sincera, afinal, ela estava ali, na cama de um hospital, imobilizada; de tão raro, o gesto lhe parecia vazio, forçado. Pediu então que a deixasse, tudo bem, nada com que se preocupar, poderia ir.  Não sem transparecer certo alívio ao tempo em que certa magoa, ao ser liberada se foi. O incômodo era recíproco. Ela, viu-se só, e sentiu que queria ter ouvido  uma recusa... Mais tarde, as coisas se complicaram, viu-se dependente da caridade alheia, e quando a vontade de não ligar foi menor que a necessidade, ela ligou, pediu que voltasse. Do outro lado uma voz áspera questionava a razão de ser chamada a voltar. Ela respirou e concluiu: Era necessário. Sentindo-se cada vez mais só, viu contrariada por ter de estar ali a única no mundo que não a deveria desamparar. Para não se ver fraca ela chorou por dentro, e essas lágrimas ainda não secaram.

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