sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Dos pequenos grandes gestos



Hesitou, passou um, dois, no terceiro ônibus ele subiu. Não encarou o motorista, apenas procurou rapidamente um lugar para se sentar, sentou. Suava, as mãos frias, o olhar vacilante, a ansiedade. Não tinha com que pagar a passagem e nem tinha idade que o isentasse, um ano, um ano apenas, mas ainda não. A idade não se via no rosto, que aparentava dez anos a mais, de certo sofrera, e o sofrimento vincou-lhe a face como o talhe de um artesão, que quisesse expressar o resultado de uma dor crônica e aguda. Aproximava-se o ponto, deveria descer, solicitada a parada, rápido, dirigiu-se a porta, mas, antes de abri-la o motorista, desconfiado, solicitou-lhe o documento. A carteira dançava em suas mãos. Muitos anos, mas não o suficiente para não pagar a passagem. O motorista, insensível cumpridor do dever profissional, alterou a voz ao cobrar-lhe, e ele, num sussurro rouco e clemente replicou: “não tenho dinheiro”. Ele que assistia a tudo calado. Interveio, pagou-lhe a passagem, e pediu o que o deixassem descer. Dois reais não lhe faria falta, mas fez diferença para aquele que, sem demora, apeou e se foi.

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