Hesitou, passou um, dois, no
terceiro ônibus ele subiu. Não encarou o motorista, apenas procurou rapidamente
um lugar para se sentar, sentou. Suava, as mãos frias, o olhar vacilante, a
ansiedade. Não tinha com que pagar a passagem e nem tinha idade que o
isentasse, um ano, um ano apenas, mas ainda não. A idade não se via no rosto, que aparentava dez anos a mais, de certo sofrera, e o sofrimento vincou-lhe a
face como o talhe de um artesão, que quisesse expressar o resultado de uma dor
crônica e aguda. Aproximava-se o ponto, deveria descer, solicitada a parada, rápido,
dirigiu-se a porta, mas, antes de abri-la o motorista, desconfiado, solicitou-lhe
o documento. A carteira dançava em suas mãos. Muitos anos, mas não o suficiente
para não pagar a passagem. O motorista, insensível cumpridor do dever
profissional, alterou a voz ao cobrar-lhe, e ele, num sussurro rouco e clemente
replicou: “não tenho dinheiro”. Ele que assistia a tudo calado. Interveio,
pagou-lhe a passagem, e pediu o que o deixassem descer. Dois reais não lhe
faria falta, mas fez diferença para aquele que, sem demora,
apeou e se foi.
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