sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O primeiro amor

O primeiro lhe chegou como quem chega do lado, era o vizinho. Brincavam juntos na infância, ele tinha nos olhos um verde de folhas vivas e uma aura de bom moço. Era o mais velho dos irmãos, o mais parecido com o pai, o que amadureceu cedo para ajudar na lida da família. E foi o primeiro. O primeiro que fez sua respiração falhar, seu coração palpitar, suas pernas tremerem e a fala sumir da boca. Essa ebulição química que acomete o corpo e de que pouco se sabe, ou se explica. E foi o também o primeiro de uma série de fracassos. Ele a queria, os olhos lânguidos e a timidez indicavam, mas não se nos arriscaram, não se falaram, não se tocaram. E o desejo ficou no ar, suspenso como a poeira levantada num dia morno. Ele se mudou, há tempos se casou. Nunca mais se viram.



"Salgueiro chorão com lágrimas escorrendo;
Porque você chora e fica gemendo?
Será porque ele lhe deixou um dia?
Será porque ficar aqui, não mais podia"